Tim, tim, Renato Rabelo! Uma honra contar a sua história na AP e no PCdoB!

Por Osvaldo Bertolino

Pronunciamento no ato de lançamento da biografia Renato Rabelo – vida, ideias e rumos, de minha autoria

Agradeço todas e todos pela presença, aos internautas da TV Grabois, e saúdo a Mesa.

Quero agradecer inicialmente ao Renato, que conheci pelas páginas do jornal Tribuna da Luta Operária nas eleições de 1982 e pessoalmente em 1989, numa atividade do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, do qual eu era diretor de imprensa. Conversei muitas vezes com Renato para os nossos veículos de comunicação da Fundação Maurício Grabois e do PCdoB. Para esta biografia, foram em torno de nove horas gravadas, uma descrição ampla de sua vida e do seu pensamento.

Foi o ponto de partida para um mergulho nos arquivos da ditadura militar, fazendo o minucioso trabalho de cruzar as informações com a memória de Renato e de seus contemporâneos. Ao mesmo tempo, o arquivo da Fundação Maurício Grabois, reunido pelo trabalho dedicado do saudoso Augusto Buonicore e do abnegado Fernando Garcia no Centro de Documentação e Memória, o CDM da Fundação, foi um precioso ponto de apoio. É um tesouro do PCdoB.

E assim a pesquisa foi perpassando a trajetória de Renato e constituindo o painel biográfico narrado no livro, com a valiosa ajuda do amigo e camarada Luiz Manfredini, jornalista, militante da AP e do PCdoB, escritor talentoso. Destaco também o trabalho precioso do diagramador Laércio d’Angelo, da revisora Lucília Ruy e das pesquisadoras Vanilda Fatega e Carolina Polli e do Felipe Spadari, também do CDM.

Quero agora agradecer de modo especial a Conchita, que fez com Renato toda essa caminhada, desde os tempos de jovens estudantes em Salvador. Ela foi essencial para a apuração de muitas passagens da biografia. Ela também é, de certa forma, biografada. Merece uma biografia por seu exemplo de vida e de militante comunista. Conchita faz parte da galeria das heroínas do PCdoB, muitas vezes ocultas pelas circunstâncias e pela estrutura opressiva da sociedade, que se estende à subjetividade da memória histórica. Sua ajuda para essa biografia foi inestimável.

Agradeço, também de modo especial, a Mara, irmã do Renato, meu braço direito na Bahia. Foi de uma gentileza e presteza incalculáveis. Por meio dela, pude conversar com os irmãos Antônio e Jorge, que também estão muito presentes na biografia. Faço também uma reverência a Nina e a André, filhos de Renato e Conchita, igualmente pacientes e diligentes quando precisei de suas preciosas informações.

A vertente familiar é um dos esteios da biografia, juntamente com a das organizações às quais ele pertenceu, a AP e o PCdoB, e as conjunturas nacionais e internacionais de cada momento de sua vida.

Também de modo especial, agradeço a Adalberto Monteiro, o mentor desta biografia, à época presidente da Fundação Maurício Grabois. Com ele, agradeço a Walter Sorrentino, atual presidente da Fundação, e por eles agradeço a estrutura de direção da Fundação e do PCdoB, que possibilitaram essa publicação. Agradeço, igualmente, a Luciana Santos, presidenta do PCdoB, que se dedicou a escrever o denso Prefácio do livro. Assim como o presidente Lula e a ex-presidenta Dilma, que gentilmente escreveram apresentações para a biografia.

Esta biografia é resultado também de outras sete anteriores, um acervo da história do PCdoB iniciado com a biografia de Carlos Nicolau Danielli, em 2002, assassinado pela ditadura militar em 1972, uma sugestão de Altamiro Borges, então secretário de Formação do PCdoB de São Paulo. Na biografia de Danielli tem muito de Pedro Pomar e de Renato, pela transição da AP ao PCdoB. Danielli e Pomar foram essenciais para a AP incorporar conceitos marxistas-leninistas, dando origem à Ação Popular Marxista-Leninista, APML.

Como diz Renato, seu ingresso no PCdoB representou um ponto divisor em sua vida, um mundo de compreensão que se abriu. Ele iniciou a sua militância política lá na região onde nasceu, Ubaíra, Bahia, como integrante da Juventude Estudantil Católica (JEC), em plena campanha presidencial de Juscelino Kubitschek, em 1955. Ele chegou à Juventude Universitária Católica (JUC), já em Salvador, como estudante de Medicina da Universidade Federal da Bahia.

E foi eleito presidente da União dos Estudantes da Bahia, a UEB, de onde saiu, na clandestinidade, após um confronto com o ministro das Relações Exteriores da ditadura, Juraci Magalhães, para participar da Operação Trote, que realizou o 28º Congresso da UNE em Belo Horizonte, sob severa perseguição da repressão, quando foi eleito vice-presidente. Os estudantes deram um olé na ditadura com a Operação Trote.

Quero mencionar aqui José Luiz Moreira Guedes, o presidente da UNE eleito naquele Congresso, que deve estar nos assistindo pela TV Grabois, personagem importante na trajetória de Renato, presente em muitos momentos cruciais de sua história.

Naturalmente, surgiu na história a Guerrilha do Araguaia, assunto em debate na AP na fase final da incorporação. Renato, já na Executiva do PCdoB, em 1974 foi cumprir missão partidária na região da Guerrilha, tema de seus estudos sobre a guerra popular desde quando esteve na China num curso político-militar na academia do Exército Popular em Nanquim.

E surgiu, também, a biografia de Maurício Grabois, teórico e construtor do PCdoB desde a década de 1930, comandante militar no Araguaia. Depois vieram biografias de ex-militantes da AP: Aurélio Peres, Vital Nolasco, Antônio Almeida Soares, o Tom, e Péricles de Souza. E outros livros relatando aspectos da história do PCdoB.

À esquerda, Adalberto Monteiro

Surgiu ainda a descoberta do documentário produzido na Tchecoslováquia que destaca o guerrilheiro Osvaldão, do qual tomei conhecimento numa conversa com o filho de Pomar, Eduardo, que também está no documentário, numa conversa para a biografia de seu pai. O documentário resultou no filme dirigido pela Tininha, pelo Vandré Fernandes e outros.

São episódios cruciais dessa fase de Renato, que nominei de Desbravador. Nela está também a sua profícua atividade de dirigente do PCdoB ao lado de João Amazonas, Diógenes Arruda Câmara e Dynéas Aguiar no exílio forçado na França pela Chacina da Lapa, em 1976, e a volta ao Brasil após a anistia de 1979, numa fase de reconstrução do Partido e de sua inserção na luta de massas que levou ao fim da ditadura militar em 1985, à Assembleia Constituinte e à ativa colaboração de Renato para a formação da Frente Brasil Popular, com Lula candidato a presidente da República em 1989.

Renato iniciou ali também a fase que denomino de Ideólogo, com seu pronunciamento no primeiro programa em rede nacional da história do Partido, quando ele apresentou a ideia que iria norteá-lo, o caminho para o ideal socialista. Em seu Informe de Organização no 7º Congresso do Partido, em 1988, ele aprofundou o conceito, que seria decisivo para enfrentar a crise do socialismo iniciada no final da década de 1980.

Renato se destacou nas formulações do histórico 8º Congresso, de 1992, e liderou a elaboração do Programa aprovado na 8ª Conferência, em 1995. Surgiu, nesse processo, suas formulações com base na tese da nova luta pelo socialismo. Ele também esteve presente com destaque nos embates políticos, sobretudo nas eleições presidenciais, com a ideia da frente ampla para isolar e derrotar o projeto da direita.

No auge dessa batalha, ele assumiu a presidência do PCdoB, no X Congresso, em 2002. É quando se inicia a fase que no livro denomino de Construtor. Sua atuação, principalmente nas crises políticas decorrentes das investidas golpistas, foi decisiva para os êxitos dos governos Lula e Dilma, como eles relatam em suas apresentações. Renato também se aproximou do vice-presidente, José Alencar, com quem conversava sistematicamente, desenvolvendo, além de afinidades políticas, amizade pessoal.

Renato se eleva nessa fase, pondo em prática seu acúmulo teórico e sua experiência, com novas formulações, estruturando o PCdoB como relevante força da luta política, também apoiado na trajetória dos comunistas brasileiros desde 1922 e nas experiências revolucionárias internacionais.

Ele esteve presente em diversos países, onde foi recebido com reverência, especialmente China e Vietnã. Também recebeu, no PCdoB, destacadas lideranças comunistas de outros países. No pós-crise das experiências socialistas, enriqueceu a teoria marxista também com ideias debatidas nesses eventos internacionais.

Renato é um exemplo de caráter, de compromisso com os ideais pelos quais dedicou a vida. Em seu percurso, teve perdas pessoais impactantes, como o falecimento precoce da mãe, dona Maria de Brotas, e do irmão, Agnaldo, militante do PCdoB desde a década de 1960.

E a perda de João Amazonas, em 2002, num momento para ele inesperado, quando estava em viagem a Cuba, o que lhe causou grande impacto. Enfim, assim é o Renato, descrito nessas 848 páginas do livro como um homem de carne e osso, sangue e sentimentos, apreciador de vinho, de boa conversa, admirado também como pai, marido, avô do Lorenzo, da Ana Clara e da Sophia, camarada e amigo de todos os que com ele tiveram o privilégio de conviver. Um brinde, Renato! Tim, tim!

Muito obrigado

Biografia de Renato Rabelo retrata frondosa árvore da notável floresta socialista

Biografia de Renato Rabelo: Frondosa árvore de uma notável floresta

Por Adalberto Monteiro

Quando uma árvore, por seu porte, por suas raízes profundas, por inúmeras floradas e iguais colheitas proporcionadas, por tantas sementes dela germinadas, desponta-se em uma alta floresta, vem de quem a enxerga a indagação de quanto disso e daquilo ela teve de enfrentar e vencer para adquirir aquela presença destacada, valorizada, naquela paisagem por si só rica e diversa.

A biografia de Renato Rabelo, pelo trabalho arguto e meticuloso do historiador e biógrafo Osvaldo Bertolino, dá-nos acesso às páginas da vida deste destacado dirigente do PCdoB e ao mapa de uma longa e realizadora militância revolucionária. O livro é uma realização da Fundação Maurício Grabois, da qual Renato é, hoje, o presidente de honra.

Trata-se de um trabalho de mais de três anos, alicerçado em pesquisas, apoiado em fontes, muitas até então inéditas; além, é claro, de horas e horas de gravação com o biografado. Osvaldo, não fosse historiador, biógrafo, poderia ter sido roteirista de cinema. Por vezes, leitor, leitora, a fluência do texto nos faz ver, enxergar, assistir, sentir fatos vividos por Renato. Riqueza de detalhes, reconstituição de cenários e circunstâncias, mas sempre marcando o significado de cada episódio.

As minúcias são na verdade chaves através das quais somos transportados aos portais do tempo. Quais a senha e a contrassenha que os/as estudantes delegados/as tinham que pronunciar para ter acesso ao clandestino XXVIII Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE)? Quem é o personagem da palavra de ordem entoada pelas passeatas estudantis de meados dos anos 1960: Osso, osso, abaixo o sem-pescoço?

A biografia de Renato flui, pela maestria de Bertolino, carne e unha com a história do Brasil, entrelaçada com as histórias da Ação Popular (AP), da Ação Popular Marxista-Leninista (APML) e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e, também, do movimento comunista internacional. Vê-se a presença destacada de Renato em batalhas e confrontos decisivos para o Brasil e para o proletariado, a luta pelo socialismo nas últimas seis décadas e um rol de feitos e realizações de sua militância.

O Índice Onomástico da obra evidencia um conjunto numeroso de nomes de quadros e lideranças da AP e do PCdoB, que torna patente o trabalho coletivo que Renato sempre valorizou como método de trabalho; e, também, de personalidades dos campos democrático e popular do país que, por sua vez, refletem a política de alianças amplas do PCdoB da qual Renato é um dos elaboradores e protagonistas na aplicação. Os textos, neste livro, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ex-presidente Dilma Rousseff bem simbolizam a dimensão destas relações de aliança, bem como a estatura do legado político de Renato.

Um dos méritos da obra de Bertolino, aliás um dos traços também presentes em biografias anteriores, é não circundar nenhuma auréola em torno da cabeça do biografado. Movimenta-se, então, um Renato substantivamente humano, terrestre, como você, ele, ela e eu, que tem família, que se diverte, que se embevece com uma taça de vinho, que se entristece, que tem saúde, que adoece, que trabalha muito, acerta e erra. A vida sempre modesta, por vezes, duramente difícil, de Renato e da família.

Em diferentes circunstâncias, a biografia ressalta duas características dominantes da personalidade de Renato: a empatia e a imensa capacidade de ouvir e de, assertivamente, interagir com a ideias a ele apresentadas, mesmo que delas tenha divergência; e a coragem política, a firmeza de tomar decisões.

Uma essência transborda da biografia de Renato: sua maior obra e legado é ter aportado, ao acervo teórico, político e ideológico do Partido Comunista do Brasil, importantes contribuições teóricas e políticas que enriqueceram o pensamento tático, estratégico e programático da legenda comunista, como também a práxis de sua edificação e atuação na arena da luta de classes. A isso se soma um elenco de quadros comunistas em relação aos quais o papel de Renato foi destacado para formá-los, seja na Escola Nacional João Amazonas, seja na estrutura do Partido, seja nas frentes de atuação, notadamente no movimento estudantil.

E este aporte alinhava o fluxo da biografia, revelando-nos em que circunstâncias, no curso de quais confrontos da luta de classes, no Brasil e no mundo, o legado de Renato foi se erguendo.

E, temporalmente, isso se dá ao longo de mais de sessenta anos de militância. O marco zero deste itinerário é o final dos anos 1950, quando, no interior da Bahia, no último ano do colégio, assumiu a secretaria geral do grêmio estudantil. Segundo Osvaldo Bertolino, Renato “queria conhecer Salvador, ver o Brasil, tomar pulso do mundo”. Sonho que, como se sabe, concretizou-se.

A sua jornada de lutas se inicia no âmbito da juventude católica, orientada pela Teologia da Libertação. E, logo a seguir, nas fileiras revolucionárias da Ação Popular, e, a partir de 1973, após incorporação desta organização à legenda comunista, no núcleo dirigente do PCdoB. Trajetória essa que chega ao ápice no período de dezembro de 2001 a maio de 2015, quando, por indicação de João Amazonas, liderança histórica dos comunistas, Renato é eleito pelo Comitê Central para exercer a presidência do Partido Comunista do Brasil.

Uma vida longa é a um só tempo privilégio e desafio. Desafio, pois que, quaisquer que sejam as vicissitudes, a liderança comunista é chamada a descrever uma linha de coerência. Da primeira página até a última do livro, o que costura o itinerário de lutas de Renato são três palavras: coerência, convicção e compromisso, com ideais do comunismo, com um projeto de nação, de um Brasil democrático, soberano, socialista, que abraçou com ardor e consciência desde a juventude.

A maturação da têmpera revolucionária de Renato, o processo cumulativo de suas qualidades respondendo às responsabilidades cada vez mais elevadas de mandatos oriundos do coletivo, deram-se consoante, sobretudo, à dinâmica da luta política do país, mas também sob os impactos dos conflitos e confrontos que se irromperam na realidade mundial e, é claro, das vicissitudes do movimento comunista brasileiro e internacional com suas vitórias, mas, também, com suas divisões e seus reveses.

O retrato de Renato, pelos traços de sua biografia, revela uma liderança de ação, de combate, de verdadeira gana por intervir nas principais lutas sociais, políticas, ideológicas, travadas no país nas últimas seis décadas. E, ao mesmo tempo, sistematiza e generaliza a prática transformadora, estuda, elabora, a partir do marxismo, formulações que buscam responder aos nexos principais da luta de classes em cada momento histórico, jamais se deixando aprisionar por verdades pétreas.

E sempre que a prática e o curso da história revelam erros ou insuficiências, com base no método leninista da crítica e da autocrítica, abraça ou participa da gênese do novo, que faz a teoria e a prática avançarem.

Para completar, o terceiro traço do retrato se avulta: construtor do Partido Comunista do Brasil, com a seiva da luta política e de massas, com a teoria marxista-leninista a toda carga, com sua essência transformadora iluminando a prática revolucionária.
Finalmente, a biografia de Renato é um acervo vivo e pulsante de ideias e práticas transformadoras, de convicções e de energia revolucionárias que nos convidam, nos convocam, a prosseguir as jornadas de lutas pela construção do socialismo em nosso país.

Adalberto Monteiro é jornalista e poeta, secretário nacional de Formação e Propaganda do PCdoB

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Serviço:

Título: Renato Rabelo – vida, ideias e rumos
Autor: Osvaldo Bertolino
ISBN: 978-65980456-4-7
Publicação: Fundação Maurício Grabois
Ano de publicação: 2025
Páginas: 848

Fonte: www.gradois.org.br