“Comunistas” do caminho sem rumo

Por Osvaldo Bertolino

Assim como a extrema-direita, há uma explosão de perfis e canais de extrema-esquerda. Tem para todos os gostos, de todas as cores. O fenômeno decorre da crise econômica do capitalismo, transformada em crise política e degradação social. Ou seja: o terreno é fértil para a germinação de sementes plantadas na superfície, originando árvores com crescimento rápido em busca de luz, mas incapazes de gerar frutos. Quem olha os troncos, os galhos e as folhas sem prestar atenção nas raízes, é induzido a avaliações igualmente artificiais.

Há uma guerra entre as correntes de extrema-esquerda, que nada fica a dever aos métodos da extrema-direita. Na busca por lugar ao sol, os golpes são violentos. A retórica se derrama em lances patéticos, formulações grosseiras e estridência verbal. Um quer suplantar o outro a qualquer custo, numa escalada sem limites. A cada rodada de respostas – chamadas por eles de “react” –, outras de provocações se sucedem, em ondas concêntricas intermináveis.

Isso se chama oportunismo. Esquerda, ideias progressistas, luta pelo socialismo são conceitos que, fora de um projeto tático e estratégico, não leva a lugar nenhum. Para os que se dizem “comunistas”, a coisa é ainda pior. Qualquer fenômeno analisado fora desse projeto não passa de retórica, bravatas que batem na realidade e se dissipam como palavras ao vento. Serve no máximo para ecoar em ouvidos pouco habituados às formulações clássicas sobre o socialismo – ou o “comunismo” –, capturando indignações sem dar-lhes consequências práticas.

O marxismo, a raiz profunda da luta pelo socialismo, tem, na formulação clássica de Lênin, como parte constitutivas, a filosofia, a economia e a política. Dissociá-las, dizia o próprio Lênin, é oportunismo. Exatamente o que se vê com a presença ostensiva e prosélita da extrema-esquerda na internet. Em busca de protagonismo e estrutura de financiamentos – no popular, “caça cliques” e monetização –, tira-se do debate a reflexão realmente marxista para apresentar obtusidades e becos sem saída.

O princípio essencial da luta pelo socialismo é a dialética, que, com suas categorias, une e impulsiona a luta política, para os marxistas o caminho para o socialismo. Na definição de Lênin, análise concreta da realidade concreta. A realidade em constante mutação, às vezes em longos períodos de poucas mudanças e curtos períodos de muitas mudanças. Para interagir com a realidade é preciso ter um programa, um instrumental organizativo capaz de se apresentar como força transformadora, de produzir sínteses em todas as ações para dar surgimento a novas realidades.

Falar de “comunismo” sem essa premissa é seguir por um caminho sem rumo, se deparando com obstáculos intransponíveis ou abismos insuperáveis. O caminhante não tem como seguir em frente. É oportunismo e aventureirismo, que precisam negar a realidade concreta e confrontar a essência da luta pelo socialismo para garantir suas posições, transformando-se em forças que se opõem ao processo dialético, criando mais obstáculos no caminho dos que seguem um rumo, com tática, estratégia e rumo bem definidos.